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Daniel Bensaïd - Marx, manual de instruções

Here you can read online Daniel Bensaïd - Marx, manual de instruções full text of the book (entire story) in english for free. Download pdf and epub, get meaning, cover and reviews about this ebook. year: 2015, publisher: Boitempo Editorial, genre: Detective and thriller. Description of the work, (preface) as well as reviews are available. Best literature library LitArk.com created for fans of good reading and offers a wide selection of genres:

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Marx, manual de instruções: summary, description and annotation

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Pouco mais de vinte anos atrs podia-se ouvir praticamente em unssono que Marx est morto. Mas, diante de um cenrio pautado por crises econmicas, ecolgicas e ideolgicas, de um desmonte institucional num contexto de mobilizaes globais, Marx se afirma cada vez mais como o espectro incontornvel de nossos tempos. Suas anlises econmicas passam a ser cada vez mais levadas em conta pelos analistas de Wall Street e sua teoria do dinheiro discutida at pelos grandes meios de comunicao. Mas, afinal, o que disse Marx? Nesse pequeno curto livro, Marx, manual de instrues, publicado pela Boitempo, o filsofo e ativista poltico francs Daniel Bensad (1946-2010) oferece uma divertida introduo vida e obra do pensador alemo. Um claro e elucidativo panorama que combina filosofia e dezenas de quadrinhos do provocativo cartunista francs Stphane Charb Charbonnier, feitos especialmente para a obra; h humor e esprito de sntese, carregado de insights de um dos mais importantes tericos anticapitalistas da contemporaneidade.

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Marx, manual de instruções — read online for free the complete book (whole text) full work

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Introduo

Ser sempre um erro no ler, reler e discutir Marx. Ser um erro cada vez maior, uma falta de responsabilidade terica, filosfica, poltica.

Jacques Derrida

Um trovo inaudvel, escreveu o filsofo Grard Granel a respeito de O capital. Inaudvel talvez para aqueles que foram seus contemporneos. O estrondo desse trovo, no entanto, no deixou de se amplificar desde ento, a ponto de ser hoje ensurdecedor.

Est longe a poca em que uma imprensa ruidosa anunciava triunfalmente ao mundo a morte de Marx. Involuntariamente, ela exprimia assim tanto o alvio por seu desaparecimento quanto o temor de que ele voltasse. Esse temido retorno causa hoje um grande alvoroo. A edio alem de O capital triplicou suas vendas em um ano. Sua verso em mang tornou-se um best-seller no Japo. Jacques Attali proclama a si prprio o ltimo marxista francs (sic!), tomando o cuidado de acrescentar: sob certos aspectos. Por ltimo, a revista Time celebra Marx como uma torre imensa que domina as outras no nevoeiro. At em Wall Street houve manifestaes aos gritos de Marx tinha razo!.

Esse entusiasmo suspeito justifica o receio de que o come-back de um Marx pleiadizado e panteonizado reduza-se a uma banalizao miditica, tornando inofensivo aquele que quis semear drages. Um Marx sem comunismo nem revoluo; em sntese, academicamente correto. As homenagens, to numerosas quanto tardias, so, na maior parte, prestadas pelo vcio virtude. Queiram ou no, saibam ou no, todos os homens sobre a terra so, de certa maneira, herdeiros de Marx, escreveu Jacques Derrida, em seu Espectros de Marx. E Fernand Braudel recordou a que ponto o esprito da poca e seu vocabulrio estavam impregnados das ideias de Marx. Em suma, e at certo ponto, a poca pratica o marxismo sem saber.

H mais. Na realidade do mundo atual, o capitalismo se aproxima de seu conceito terico. Faz tudo virar mercadoria: as coisas, os servios, o saber e a vida. Generaliza a privatizao dos bens comuns da humanidade. Desencadeia a concorrncia de todos contra todos. Nos pases desenvolvidos, 90% da populao ativa agora assalariada. Tudo isso concorre para que a crise atual apresente-se como uma crise indita daquilo que Michel Husson chama de capitalismo puro. Justifica-se assim plenamente a afirmao de Derrida, segundo a qual no h futuro sem Marx, ou pelo menos sem a memria e a herana de um certo Marx. Sua atualidade a do prprio capital, de sua crtica da economia poltica, e isso faz dele um grande descobridor de outros mundos possveis.

Este livro no pretende restabelecer, por trs das falsificaes e da espessa crosta de ideias recebidas, o verdadeiro pensamento de um Marx autntico e desconhecido. Pretende apenas apresentar um manual de instrues possveis, mostrando como sua crtica radical, relutante a qualquer ortodoxia, a qualquer fanatismo doutrinrio, sempre pronta autocrtica, sua prpria transformao ou sua prpria superao, vive as questes deixadas entreabertas e as contradies no resolvidas. um convite descoberta e controvrsia.

Ao mesmo tempo introduo recreativa a uma obra, lembrete, caixa de ferramentas para pensar e agir, este livro deseja contribuir, na aproximao de grandes turbulncias e tormentas com desfecho incerto, para afiar novamente nossas foices e nossos martelos.

Economista, conselheiro do presidente Franois Mitterrand. (N. T.)

Empresrio francs. (N. T.)

Jacques Derrida, Espectros de Marx: o estado da dvida, o trabalho do luto e a nova Internacional (trad. Anamaria Skinner, Rio de Janeiro, Relume-Dumar, 1994). (N. E.)

Como se tornar barbudo e comunista

No mesmo ano em que Mary Shelley traz ao mundo um certo doutor Frankenstein, vem luz um robusto beb, em 5 de maio de 1818, na famlia Marx, rua Brcken, 665, em Trier (Rennia). Morre-se muito, e jovem, na casa dos Marx. Um irmo mais velho morre no mesmo ano do nascimento do pequeno Karl. Quatro outros irmos e irms perecem prematuramente de tuberculose. S lhe restam uma irm mais velha e duas mais jovens. Mais tarde, dos seis filhos de Karl e de sua companheira Jenny, apenas trs filhas sobrevivero Jenny, Laura, Eleanor , mas as duas ltimas acabaro por se suicidar.

Como o rei Lear, o jovem Karl tem a trgica vocao de ser homem entre vrias mulheres. E moas.

Pelo lado da me os Marx descendem de uma linhagem de judeus holandeses - photo 1

Pelo lado da me, os Marx descendem de uma linhagem de judeus holandeses, rabinos h sculos, qual tambm pertence o prspero tio Philips. Papai Marx, por sua vez, mais um homem das Luzes, alimentado por Voltaire, Rousseau e Lessing. Para escapar da interdio imposta aos judeus pelas autoridades prussianas de se tornarem funcionrios do Estado, Hirschel Marx, advogado em Trier, coagido a converter-se ao catolicismo e torna-se Heinrich Marx.

De 1830 a 1835, em uma Rennia agitada por manifestaes a favor da unidade alem e das liberdades polticas, o jovem Karl um estudante mediano do Ginsio de Trier, versificador em alguns momentos e talentoso para a escrita. No outono de 1835, de posse de seu diploma, parte para Bonn a fim de iniciar um curso de direito. Em composio redigida nesse mesmo ano, sobre a meditao de um adolescente diante da escolha de sua profisso, ele demonstra a aspirao de agir no interesse comum, a incerteza quanto escolha da carreira e a conscincia das determinaes sociais dessa escolha: Nem sempre possvel abraar a profisso para a qual ns nos sentimos impelidos, porque nossas relaes com a sociedade comearam, de certa forma, antes que pudssemos determin-las.

Habitus, quando nos pegas!

De filho prdigo...

Em Bonn, o estudante Marx, bom bebedor, frequenta as tabernas e o clube dos poetas. Entusiasta, briguento, bomio, perseguido por dvidas e bate-se em duelo, apesar das reprimendas de um pai que julga incompatveis o duelo e a filosofia.

Em 1836, com dezoito anos, vai de Bonn para Berlim. Ao longo de sua correspondncia, o pai descobre em seu menino uma paixo demonaca. As cartas traduzem uma tenso crescente. Em 10 de novembro, Karl escreve:

Meu caro pai, h na vida momentos que so como marcas de fronteira erguidas ao fim de um perodo concludo e que, ao mesmo tempo, indicam uma nova direo. A poesia no poderia ser mais do que um coadjuvante. Era necessrio que eu estudasse jurisprudncia, e sentia principalmente um forte desejo de me aplicar filosofia. Tive de passar muitas noites em claro, sustentar muitas lutas [...]. Tombou um vu, meu santo dos santos estava despedaado, era necessrio procurar novos deuses. Queimei todos os poemas, todos os novos projetos.

Um ms mais tarde, Marx pai responde:

Desordem, sombrios passeios por todos os domnios do saber, sombrias cogitaes luz de uma lamparina; a indolncia em robe de intelectual, com os cabelos desgrenhados, substitui a indolncia diante do copo de cerveja: insociabilidade que afasta a todos, com desprezo a toda dignidade e a toda considerao por seu pai. Voc causou a seus pais muito sofrimento e lhes deu bem pouca, ou mesmo nenhuma, alegria.

Gastador, o filho festeiro e paga de bom grado a conta dos colegas. O pai deplora sua prodigalidade: Como se fssemos duendes revestidos de ouro!. Fica indignado com o descaso filial: Mas como um homem que, a cada quinze dias, precisa inventar novos sistemas e rasgar seus velhos trabalhos poderia, pergunto, ocupar-se desses pequenos detalhes?.

Heinrich Marx morre cinco meses depois, em 10 de maio de 1838, sem reconciliao.

Nas frias de vero de 1836 o jovem Marx havia noivado secretamente com Jenny - photo 2

Nas frias de vero de 1836, o jovem Marx havia noivado secretamente com Jenny von Westphalen, quatro anos mais velha. Em Trier, as famlias Marx e Westphalen so vizinhas. As crianas compartilham brincadeiras, estudos, emoes juvenis. Cortejada como uma maravilhosa princesa por muitos homens da boa sociedade, Jenny a rainha do baile. No entanto, prefere conceder seus favores a esse adolescente moreno e turbulento, a quem apelida meu javali selvagem. No Natal de 1836, Karl lhe dedica trs volumes de poemas, intitulados

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